quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Eu estive em um lugar inimaginável e indescritível que eu mesmo imaginei, e eu mesmo destruí. Foi como ver as nuvens brancas ganharem a forma de anjos descendo ao inferno e levando-me com eles. Lá é meu lugar, onde não posso perturbar você e ninguém mais, onde ficarei sozinho e isolado de tudo menos do fogo e da dor. Terei apenas minhas lembranças e o sono mal dormido de toda noite, com intermináveis sonhos torturantes e confusos me acordando de hora em hora. Nesses sonhos os dois anjos me farão sofrer ajoelhado em brasa vinda de sua voz, doce, falsa, ignorando-me. Errei muito, e sua paciência já foi longe demais. Apenas peço que olhe para mim mais uma vez. Apenas uma vez que os dois anjos não me torturem, mas sim me confortem, como costumava ser quando eu ainda podia ficar de pé. Perdoe-me de meus pecados e olhe para mim, no fundo da minha alma, atravesse-me com seus olhos afiados e vermelhos. Mate-me com seus olhos suaves e esbranquiçados.


André Arietta

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