quarta-feira, 16 de junho de 2010

Não quero ser o último a comer-te


Não quero ser o último a comer-te.
Se em tempo não ousei, agora é tarde.
Nem sopra a flama antiga nem beber-te
aplacaria sede que não arde


em minha boca seca de querer-te,
de desejar-te tanto e sem alarde,
fome que não sofria padecer-te
assim pasto de tantos, e eu covarde


a esperar que limpasses toda a gala
que por teu corpo e alma ainda resvala,
e chegasses, intata, renascida,


para travar comigo a luta extrema
que fizesse de toda a nossa vida
um chamejante, universal poema.

Drummond

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