quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Toda vez que olho no espelho, é a mesma expressão que vejo e faço.
É como se eu não controlasse a minha face.
É como se outra pessoa tivesse tomado o meu corpo e os meus pensamentos.
Talvez a vida seja mesmo cruel a ponto de me dar um amor.
É, assim mesmo, de mão beijada como se diz, sem eu ter feito nadica de nada.
Pois é caro amigo, eu tenho um amor...

A Triste Verdade de Nossas Capitais - André Arietta

Numa escadaria entre-ruas mal iluminada estava um grupo de pessoas. Todas dando uma surra em alguém. Um rapaz, jovem, sem muita reação. Eram três contra um. Mal tentava se levantar e eles o chutavam, socavam, pisoteavam. Puxaram-no. Deram-lhe um soco certeiro no rosto. Cambaleou para trás, mas antes que pudesse cair seguraram-lhe e deram mais um. Depois outro na barriga. Pareciam não se cansar nunca. Até que pararam. Não pareciam cansados, mas pararam. Talvez achassem suficiente. Ele então sentou-se, apoiado á parede, enquanto os outros iam embora, e viu uma garota á sua frente. Ela o mirava com um sorriso. O rapaz levantou devagar a cabeça, seu nariz sangrando e o rosto inchado, para observar a garota. Sua visão estava embaçada, fora de foco. A garota virou-se e desceu ás escadas, indo embora, e o grupo de antes voltou, dando-lhe um chute no rosto.
Acordou. Observou o espelho no teto, ao lado do cartaz do Nirvana. Sentou-se na cama. Apoiou a cabeça sobre as mãos. O sol amanhecia. Precisava dormir mais.
Deitou-se na cama, mas sabia que não conseguiria dormir. Mesmo assim, fechou os olhos e fingiu descansar.
Assim como todo o resto, ele sabia que não era verdade.
Mas era o melhor que iria conseguir.