terça-feira, 26 de outubro de 2010

Querida Alison

Já não sei se devo permanecer aqui ou só dar o parecer de que realmente partirei. Os dias estão cada vez mais quentes e a cidade está virada num inferno sem você.
Tenho evitado, por muitos dias, escrever-te mas é quase que impossível. Não tenho mais o controle sobre mim.      Toda vez que pego papel-caneta na mão, só sai essa bendita carta, então, nada melhor do que agir e não atrasar mais. E fico com esse pensamento insano-louco de te agarrar mais uma vez e sentir teu corpo suado, colado junto ao meu.
Não sei por quem mais devo chorar e se devo. Se posso sorrir sabendo que não estou bem o bastante para tal.  Ou se posso descansar finalmente e ter uma noite de sono. Tenho virado madrugadas a dentro, procurando te encontrar, ou encontrar uma solução pra esse sentimento. As horas vão passando e de repente já é de manhã.   Sinto falta de você me desejando um bom dia e me acordando com aquele beijo, que só você pode, e sabe, me  dar.
Encontro na bebida, o que encontrava em você, antes do ocorrido. Só não encontro aquele carinho que você me dava, minha doce Alison, do jeitinho que eu precisava.
Lucy ligou dia destes, perguntou como estávamos e disse que viria para um final de semana; falei que não existíamos mais, acho que fiz certo, mas de qualquer forma, mandei ela vir visitar a nossa antiga casa, agora minha.
A distância cada vez mais têm me sugado. E o problema é que não é só para um lado que desejo ir. Norte, Leste, Oeste, Sul...As tentações aumentaram, arrumei mulheres, mas nada comparado ao que você, minha doce Alison, era e é pra mim.
Julia, este é o nome da minha mais nova decepção. É de longe, que nem você, se não fossem tão diferentes e iguais ao mesmo tempo, arriscaria que se conheciam.
Ilusão minha, pois eu mesmo sei que Julia é só mais uma tentativa falha de te esquecer.
Você fez um grande estrago e mim, e desse estrago, não quis pagar o concerto.
Lembro-me, de certa vez, em que você jurou que jamais me deixaria morrer de sede de teus beijos molhados. Pois então, o tempo passou e eu morri com a boca seca.
Não que eu tenha amado mais antigamente do que agora - e amo?
Só realmente acho que era mais fácil passar para o papel tudo o que eu sentia..
Com o sofrimento, criei resistência e hoje em dia não me decepciono como antes. Anestesiei.
De tantas tempestades e dias de sol eu já tirei inspiração, que hoje sinto inveja do meu antigo eu.
Hoje em dia a geleira em que virou o meu coração não me permite mais.
Até perdi o costume de ver as horas em relógio de ponteiro, sabe? Coisa que era rotina antigamente.
Ah, antigamente, tantos sonhos que acabaram me custando mais do que eu tinha a dar.
Época boa era a que eu podia sonhar de graça.
O que não acontece mais hoje em dia: envelheci e empobreci a alma.