domingo, 5 de dezembro de 2010

Guarda-Mofo I

Por onde começar? Eis o ponto mais difícil de toda história que se preste.



Os mais íntimos me chamam de Lucy, por casa dos Beatles, ou por causa da macaca mesmo, mas meu nome é Joana, tenho 22 anos e não sei quem sou.  Tenho 1,75 cm de altura, a cor do meu cabelo varia de acordo com a tinta que coloco, gosto de vermelho e detesto futebol. Tenho um emprego razoavelmente bom, faço faculdade. Moro num apartamentozinho, a mobília é pouca e a cozinha é pequena. Meu pai é morto. Minha mãe é viva. Tenho uma penca de amigos, mas amigos mesmo, são dois. Enjôo rápido das pessoas, elas me sufocam e eu, sagitariana, adoro liberdade. Gosto de climas cults, chuva, velas, fotografias velhas, óculos de grau, maquinas de escrever, beber até vomitar a bebida e beber de novo (não, isso é nojento, não a parte de beber o vomito, mas a parte de vomitar.), cigarros e comprimidos, sejam eles de chocolate ou pra dormir.
Sim, sou alcoólatra e fumante. Mas não viciada. Isso não. Me pilho muito no tal de rock’n’roll. Sonho em casar com Bob Dylan e queria ter tido um romance com Johnny Cash ou um filho com Elvis Presley. Bom, chega, parei de falar sobre meus gostos, fantasias, aspectos físicos e de como vivo. O que me interessa mesmo, são as emoções.
As do passado, trago comigo, as do presente, vou guardando e as futuras, bom, essas ainda estão enroladas na bobina. Nos dias cinzas, até arrisco escrever algumas linhas, tentando em vão, transpor minhas emoções pro papel. Me dou conta que, estou cheia de poeira, mofo, bolor, que estou ficando cada dia mais velha e não há como parar o tempo. Sou ultrapassada diariamente por mim mesma. E toda vez, que olho no espelho, é aquela garotinha com medo de sentar no colo do Papai Noel, que vejo. Aquela mesma garotinha cheia de maldade por trás dos olhos de jabuticaba, que está doida pra cortar as orelhas do cachorro. Já que falei em cachorro, lembrei, tenho um, mas isso não interessa; não agora.
Guardo tudo na cabeça. Acho meio tosco essa coisa de ter diário. Sempre quis ter um. Adoro coisas toscas. Em época de final de ano, sempre torço pra ganhar. E é em vão. Não consigo me imaginar chegando na livraria e pedindo, verdade seja dita, conseguir eu consigo:
— Bom dia, eu queria um diário com capa vermelha de veludo e com cadeado dourado.
E a atendente lá, me olhando espantada, pergunta:
—É pra sua sobrinha ou pra irmãzinha? Se for, tem uns modelinhos da Barbie que chegaram anteontem! Ai, você vai amar!
—Moça, é pra mim mesmo.
—Ah, ok. Já vou pegar
E sai com vergonha. Eu, com mais vergonha ainda, pego, pago e saio com diário de capa vermelha e cadeado dourado.

Não, isso não é pra mim ok.


Não que seja de suma importância pra mim, mencionar os meus relacionamentos anteriores. Mas, é necessário.
Nunca amei ninguém. Acho toscas essas coisas de amar e tal. Deve ser porque eu nunca amei ninguém. Os dois homens que marcaram a minha vida, acabaram sendo uns babacas. Comecei a acabei pela internet. Nada melhor e mais frio que isso. Se bem que, nunca dei tanta importância assim pra começos e finais de namoricos. Sempre começou e acabou do mesmo jeito. No vazio. Nunca olhei nos olhos de uma pessoa e disse: “Eu Te Amo!” É, nunquinha. Tento conhecer rapazes mais velhos e acho meio estranho sair com os mais novos. É, eu não sou igual às outras garotinhas que sonham com seus príncipes encantados em seus grandes e lindos alazões. Eu quero um homem. Mas o homem que sempre procurei noutros homens. Aquele que me entenda, que cozinhe pra mim, que me conte piadas, que me faça rir e chorar ao mesmo tempo, que admita ser homem o bastante pra me amar sem esconder de ninguém.
É, eu sou romântica. Mas na internet, busco o sarcasmo.
Afinal, internet é tão importante assim? Só porque a minha vida praticamente basea-se na internet não quer dizer que eu não possa viver sem ela.
 Ta certo, eu não posso viver sem ela mesmo. Mas, voltando ao assunto, meus relacionamentos foram curtos, de grandes e pequenas emoções. Resumidos em boas conversas, boas brigas e em boas noites, com sexo ou não, mas geralmente com drogas.

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